Através de experimentos in vitro, foi percebido que quando o macrófago fagocita uma célula infectada pelo SARS-CoV-2 ainda ativo, ele passa a produzir uma enorme quantidade de mediadores pró-inflamatórios (o que contribui para a tempestade de citocinas, principalmente em pacientes com a forma grave da doença), e ainda, essa internalização de uma célula morta infectada reduz em até 12 vezes a capacidade dos macrófagos de reconhecer e de fagocitar outras células mortas.
A professora disse em entrevista à Agência FAPESP que "milhões de células morrem em nosso organismo todos os dias e elas precisam ser eliminadas de forma eficiente. Caso contrário, poderiam ser interpretadas como um sinal de perigo ou gerar autoantígenos, favorecendo o surgimento de doenças autoimunes. No caso do pulmão afetado pelo SARS-CoV-2, a remoção contínua das células mortas pelos macrófagos é essencial para a regeneração do tecido. Se a presença do vírus em uma célula fagocitada subverte essa função dos macrófagos, possivelmente contribui para o dano tecidual extenso característico da COVID-19".
No estudo, os pesquisadores infectaram com o novo coronavírus dois tipos de células epiteliais: uma originária do pulmão (Calu-3) e outra de rim de macaco (Vero CCL81). Os pesquisadores observaram que a infecção ativa na célula epitelial vias de apoptose (tipo de morte celular programada, que, normalmente, não produz uma resposta inflamatória). Além disso, os pesquisadores também induziram a apoptose em outro grupo de células através da radiação ultravioleta (UV). As células infectadas com o SARS-CoV-2 e expostas à radiação UV foram coletadas e colocadas para interagir com culturas de macrófagos derivados de monócitos humanos.
Como resultado, os cientistas perceberam que quando esses macrófagos fagocitavam as células mortas pela radiação, estes assumiam uma característica anti-inflamatória, favorecendo a reparação tecidual. Em contrapartida, ao fagocitarem as células infectadas pelo coronavírus ainda viável (capaz de infectar outras células), os macrófagos começavam a secretar altas quantidades de moléculas pró-inflamatórias, como as interleucinas (interleucina-6; interleucina 1 beta). Com esses dados, os pesquisadores puderam afirmar que ao fagocitar uma célula infectada pelo SARS-CoV-2 em processo de apoptose, os macrófagos assumiam um fenótipo pró-inflamatório, exarcebando a produção de citocinas pró-inflamatórias.
Comentários